quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A felicidade sem segredos.

A maior busca do ser humano é da felicidade. Pascal dizia que até os suicidas se enforcam querendo ser felizes. Ninguém almeja a felicidade para ter dinheiro, mas ao contrário, corremos atrás do dinheiro para sermos felizes. Portanto, o fim último que elegemos para nossa existência e a felicidade. Uma das maiores decepções que tive ao me converter foi imaginar que bastaria professar a fé cristã e automaticamente seria feliz. Descobri, ao longo dos anos, que muitos cristãos, na verdade, não são felizes.
Ouso acrescentar: Eu já vi pessoas não cristãs vivendo uma vida mais ajustada, mais redonda e mais plena do que muitos cristãos.
Os pastores e sacerdotes cristãos deveriam ser claros e honestos. Eles não podem mentir: a fé cristã não produz felicidade automática.
No esforço de acontecerem conversões, não precisa haver propaganda enganosa para seduzir as pessoas para a fé. Portanto, sejamos cândidos: muita propaganda evangélica é enganosa.
Num desses dias, um programa evangélico alardeava na mídia: “Se você está passando por dificuldades, se está vivendo um inferno, basta dizer sim para Jesus Cristo e você será feliz”. O pregador não se intimidava com suas declarações: “Deus está à sua disposição para lhe ajudar, basta você orar comigo e eu garanto, sua vida será mudada num piscar de olhos”. Passar uma semana entre os crentes já é suficiente para constatar que isso não acontece. Existem inúmeras pessoas convertidas dentro das igrejas evangélicas com depressão, angustiadas, cheias de dúvidas, sufocadas por dívidas no cartão de crédito, ansiosas, irritadiças, insones e nervosas.
Repito. a pregação, “se converta e você será feliz” é falsa. As razões são diversas:

primeiro, conversão não tem nada a ver com Deus resolvendo os nossos problemas instantaneamente. Converter-se é submeter nossa vontade à Sua soberana vontade.
Segundo, na conversão resolve-se o impasse relacional da criação. Deus decidiu nos criar, livres. Deus é trino e, portanto, relacional. Ele vive eternamente em uma comunidade tão única, que podemos afirmar que o Deus trino do cristianismo é só um. Pode-se dizer que nossa liberdade foi o preço que Deus se dispôs a pagar, por sua soberana decisão, para que pudéssemos amar. Converter-se significa, portanto, que houve uma resposta humana para o toque divino da Graça que convida para esse relacionamento. O convertido é quem diz sim ao convite de Deus. Daí se inicia um relacionamento amoroso semelhante aos dos pais e filhos, amigos, noivos ou pastor e ovelhas. Conversão é aceitar que a vontade humana se alinhe à vontade de Deus, sempre com o propósito relacional de intimidade.
Depois que nossa vontade estiver sujeita à vontade dEle, começa uma caminhada ou um processo; Deus nos ensinará como transformar nossa história de perdição em vida plena.
Colocado de uma maneira bem coloquial, seria como se Deus afirmasse: “Bem, agora que você está comigo, deixe que eu lhe ensine como ser feliz.”A diferença fundamental entre o cristão e o não cristão é que um se submeteu à vontade de Deus e agora dispõe da sabedoria divina para viabilizar a vida. Entretanto, alguns podem ser cristãos, terem essa sabedoria à sua disposição e não saberem como utilizá-la. Seria como uma pessoa que passa sua existência sobre uma jazida de ouro, mas ignorante de sua realidade, nunca garimpa o tesouro que é seu.
Houve um rapaz que herdou uma biblioteca de seu pai, mas nunca leu nenhum daqueles livros. Ele era filho de um dos homens mais cultos, porém um playboy; assim, jamais tocou em qualquer um tomo das estantes.
Houve um caso que abalou o mundo quando um avião, que transportava um time de futebol, caiu sobre os Andes. Os jovens ficaram ilhados na neve por vários dias com fome e com muita sede. Promoveram algumas expedições para procurar ajuda, mas nada encontraram. Famintos e desesperados, todos os sobreviventes acabaram praticando o canibalismo nos corpos dos que haviam morrido no acidente. Depois que foram resgatados, perceberam que haviam caminhado numa direção errada. Se tivesse tomado o caminho oposto, encontrariam uma casa com a despensa abarrotada de alimentos enlatados.Jesus começou seu ministério com o sermão do Monte que sintetiza a Lei Áurea do Reino de Deus. Os capítulos cinco, seis e sete do Evangelho de Mateus resumem o núcleo fundamental de todo ensino de Cristo. Estes são os seus Estatutos fundamentais, sua Constituição maior.
Como o maior interesse de Deus é que desfrutemos da glória que ele desfruta na trindade. Como ele sabe que nossa maior ambição na vida é felicidade, Jesus Cristo começou seu sermão fundamental, ensinando como as pessoas podiam encontrar a verdadeira felicidade.
“Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus.
Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados.
Bem-aventurados os humildes, porque eles receberão a terra por herança.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos.Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus.
Bem aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus.Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês”. (Mateus 5.3-12). Jesus Cristo foi cristalino no seu ensino: quem almejar ser feliz, precisa de três atitudes corretas:

a) para consigo mesmo – sendo pobre de espírito, admitindo suas lágrimas, na humildade, e mantendo seu compromisso com a justiça;
b) para com Deus – sendo misericordioso como Deus é, mantendo o coração puro, e sendo pacificador;
c) para com o mundo que rodeia – estando disposto a sofrer pelo que crês, mantendo a integridade emocional mesmo sendo perseguido.


Vale insistir, mesmo com o prejuízo de parecer redundante: Jesus inicia seu ensino oferecendo algumas pistas de que a felicidade não acontece por acaso.

Portanto, o caráter cristão precisará conter três ingredientes para produzir felicidade.

O primeiro, diz respeito a essência do ser – humildade de Espírito, a habilidade de chorar, a mansidão, a fome e sede de justiça.

O segundo, as expressões do ser – misericórdia, pureza de coração, promoção da paz.

O terceiro, os compromissos do ser diante da adversidade, da perseguição e da injúria.
Portanto, a expressão “Bem-aventurados” – que significa "Felizes" – não é somente indicativa ou descritiva do verdadeiro cristão, mas imperativa.